Impedido de concorrer ao Senado nas próximas eleições, por falta de idade mínima de 35 anos e barrado pelo seu partido de tentar o governo mineiro, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) mira a presidência da Câmara em 2027. Enquanto isso, ele enfrenta hostilidades não só da esquerda, mas até de aliados da direita, da qual é símbolo e alvo de cobranças.
Nos últimos meses, o deputado se firmou como político brasileiro mais influente das redes sociais, impondo derrotas históricas a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesse terreno, que o petista jamais aceitou. No mais recente revide, o presidente acusou o deputado de favorecer o PCC com fake news, em referência à postagem de janeiro que alertava para a “taxação do Pix”.
O vídeo postado por Nikolas foi visto cerca de 300 milhões de vezes e forçou o recuo da decisão da Receita de monitorar operações que somassem R$ 5 mil. Lula disse que as críticas às mudanças no Pix ajudariam a lavagem de dinheiro. O deputado avisou que processará o presidente por difamação. “Canalhice. O crime organizado só atuou a partir de janeiro?”, retrucou.
Deputado mais votado em 2022, com 1,49 milhão de votos, Nikolas reforça que continuará ativo contra Lula e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele aponta perseguição política e judicial e garante que ataques à sua atuação parlamentar e digital não mudarão o seu foco. “Querem me condenar por fazer o meu trabalho de fiscalizar e ainda fazer cortina de fumaça sobre os verdadeiros desvios bilionários do PCC”, disse.
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Eduardo Bolsonaro faz cobrança pública por mais apoio de Nikolas ao seu pai
Embora sempre se coloque ao lado de Jair Bolsonaro (PL) e dos seus filhos parlamentares, Nikolas também tem enfrentado críticas vindas da família do ex-presidente. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) o acusa de pouco empenho na defesa do pai diante do risco de condenação e de enaltecer as sanções americanas contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Mensagens obtidas pela PF mostram Eduardo enviando em julho links a Jair Bolsonaro, insinuando que Nikolas tentava se descolar do ex-presidente. Ele criticou a falta de engajamento do deputado mineiro na convocação para atos de rua e ainda reforçou, em público, que não “passaria pano para deslumbrado”, numa referência indireta ao jovem colega de bancada.
Antes, Eduardo intensificou ataques após suposta interação de Nikolas com uma influenciadora de esquerda. Apesar da pressão, o deputado mineiro manteve a presença digital e seguiu fazendo críticas à “perseguição judicial” do STF contra Bolsonaro e à direita no geral. Nas postagens mais recentes, condenou sobretudo as ações da PF contra o pastor Silas Malafaia.
Para analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, o embate interno de Nikolas e líderes do PL reflete ciúmes e disputas de protagonismo na direita. Ele busca manter o equilíbrio: não rompe com a família Bolsonaro, mas tenta afirmar autonomia. O cálculo é claro: precisa preservar sua base conservadora, mas também abre espaços para projetos futuros, como comandar a Câmara.
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Desde o início do ano, Nikolas enfrenta série de obstáculos internos no PL
Visto por parte da direita como promessa de renovação, mas também como figura polêmica, Nikolas enfrenta obstáculos dentro do próprio partido, sobretudo com a família Bolsonaro, justamente devido ao poderio nas redes sociais. Em entrevista recente ao InfoMoney, o parlamentar mineiro admitiu sonhar com o Senado, mas vê a presidência da Câmara ou da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) como oportunidades para ditar pautas.
Até agora, a trajetória de Nikolas tem sido marcada por grande visibilidade. Além da Comissão de Educação, da qual foi presidente, já participou de missões internacionais, relatou projetos importantes e até discursou em sessão da ONU em Nova York, na qual denunciou o ativismo judicial no Brasil.
Em plenário, coleciona episódios como aquele em que vestiu uma peruca para condenar excessos das políticas voltadas a pessoas transgênero, a participação na obstrução física da mesa diretora, seus pedidos de impeachment de ministros do STF e desafios à Presidência do Congresso.
Em paralelo, Nikolas responde a processos diversos na Justiça, incluindo o mais recente, na Justiça Eleitoral de Minas Gerais, que pode o deixar inelegível até 2033, por suposta desinformação na campanha de 2023, contra Fuad Noman, então prefeito de Belo Horizonte. “Chamar Lula de ladrão não é crime, é constatação”, disse ele sobre o processo movido pelo presidente contra ele.
Apesar disso, segue pressionado dentro do PL, sendo acusado até de induzir Bolsonaro a descumprir medida cautelar que o levou à prisão domiciliar, após reproduzir vídeo com o ex-presidente durante manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo.
Meta de Nikolas de presidir a Câmara deverá encontrar novas barreiras
O desafio maior de Nikolas Ferreira para chegar à presidência da Câmara, sucedendo Hugo Motta (Republicanos-PB), segundo analistas, é superar o perfil considerado “muito jovem e radicalizado”. Para o cientista político Ismael Almeida, o Centrão dificilmente aceitaria um nome com tais características.
Mas o especialista avalia que a maior barreira virá mesmo da idade do deputado, atualmente com 29 anos. “O cargo de presidente da Câmara é o terceiro da linha sucessória da Presidência da República, reservada a maiores de 35 anos, o que pode ser evocado para barrar Nikolas, jogando a disputa apenas após as eleições gerais de 2034, caso mantenha a trajetória ascendente”, explicou.
Com 18 milhões de seguidores no Instagram, Nikolas supera Lula em alcance digital. Cada publicação soma, em média, 1,5 milhão de interações, o que lhe confere status de “fenômeno político” na internet. Em eventos, é tratado como celebridade e mestre do engajamento político nas redes.
Ao discursar em eventos fora do Congresso, Nikolas afirma que busca convencer não apenas apoiadores, mas também quem diverge de suas posições. Essa estratégia o coloca entre os líderes da influência digital no Brasil, atrás apenas de influenciadores de massa, como Virginia Fonseca, mas à frente dos demais parlamentares da atual legislatura.
Futuro do deputado vai depender de escolhas e negociação, dizem especialistas
Para especialistas, a carreira de Nikolas é promissora, mas depende de ajustes. O cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), avalia que o deputado precisará dialogar mais com o centro para viabilizar projetos de poder.
“Uma experiência em cargo do Executivo, como governador, ampliaria seu escopo”, observa. Até lá, seguirá como personagem central de uma direita jovem, que acumula força e enfrenta contradições.
No Congresso, Nikolas divide opiniões. Para colegas como Gustavo Gayer (PL-GO) e Mauricio Marcon (Podemos-RS), ele mostra talento, liderança e firmeza. Para críticos, contudo, exibe excesso de confrontação e sofre pressões de todos os lados.
Apesar disso, o deputado já sinaliza traços de mais maturidade, ao reconhecer avanços em poucos ministros do STF e a necessidade de fortalecer diálogos até com a esquerda, sobretudo quando a democracia está em jogo. Ele revela, assim, esforço em calibrar discurso e ampliar margem de negociação.
FonteGazeta do Povo