A recente prisão de Hytalo Santos reacendeu debates sobre os impactos da adultização precoce de crianças e adolescentes. O caso, que envolve denúncias de exploração e exposição de menores em contextos inapropriados, trouxe à tona a preocupação de especialistas com os danos emocionais e sociais que esse fenômeno pode causar.
A psicóloga Anny Mello de Castro, especialista em saúde mental de mulheres e adolescentes, definiu a adultização como “um roubo silencioso da infância”. Para ela, colocar crianças em situações para as quais não estão preparadas.
“Quando colocamos crianças e adolescentes em contextos para os quais eles não têm maturidade emocional, cognitiva e social, estamos abreviando etapas fundamentais do desenvolvimento”, explicou.
Consequências para a saúde mental
Entre os principais riscos apontados pela psicóloga estão ansiedade, depressão, baixa autoestima, dificuldades na formação da identidade e maior vulnerabilidade à manipulação e abuso.
Segundo ela, a infância é marcada pelo brincar — um processo essencial para a construção da autonomia, da empatia e da autorregulação emocional: “Quando essa fase é roubada, não há como recuperá-la depois. As cicatrizes permanecem e se projetam para a vida adulta”, alertou.
A especialista afirmou, ainda, que a adultização também afeta diretamente a forma como crianças e adolescentes se relacionam com os outros: “Elas começam a se conectar mais por validação estética ou sexual do que por vínculos afetivos genuínos. Isso pode se perpetuar na vida adulta, dificultando relações saudáveis”, pontuou, em conversa com a coluna.
Redes sociais como amplificadoras do problema
Outro ponto destacado por Anny Mello de Castro é o papel das redes sociais na intensificação desse fenômeno. A busca por curtidas e seguidores cria um ciclo de validação perigoso, em que a criança passa a acreditar que sua aparência ou sensualidade são mais valiosas do que sua essência.
“Quando o comportamento é exibido e validado nas redes, a criança internaliza uma lógica distorcida de valor pessoal. Isso é extremamente perigoso”, observou.
Para a especialista, pais, responsáveis e criadores de conteúdo têm papel crucial na proteção da infância: “Proteger a infância não é tirar a liberdade, é oferecer o tempo e o espaço adequados para que cada fase da vida seja vivida de forma saudável. Quando pulamos etapas, os custos emocionais são altos e duradouros”, concluiu.
FonteMetrópoles