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Quando o ódio escolhe o judeu como alvo

Austrália classifica ataque a tiros em Sidney como ‘terrorista’


O antissemitismo não reage a atos concretos nem a comportamentos específicos. Ele se alimenta de preconceito, estigmatização e desumanização

Reprodução/Redes Sociais
Ataque a tiros ocorreu durante evento judaico de celebração do Hanukkah

Peço licença ao leitor para tratar de um tema que foge ao foco habitual desta coluna, motivado por uma notícia recente cuja gravidade não permite silêncio.

A violência dirigida contra judeus em diferentes partes do mundo não pode ser tratada como uma sucessão de episódios isolados ou circunstanciais. Ela assume formas distintas, ocorre em geografias diversas e se expressa por discursos variados, mas preserva um traço comum e inegociável: a escolha deliberada do alvo com base na identidade religiosa e étnica.

O ataque ocorrido nesse domingo (14), durante uma celebração judaica de Hanukkah, festival que celebra há mais de dois mil anos a defesa da liberdade religiosa, em Bondi Beach, em Sydney, recoloca essa realidade no centro do debate global. Um ritual religioso, público e pacífico, foi transformado em cenário de violência extrema. Independentemente das investigações em curso e de suas conclusões futuras, o fato em si já revela um elemento central: não se trata de violência aleatória, mas de agressão dirigida.

O problema não é o judeu

É preciso afirmar isso sem hesitação. No antissemitismo, o problema nunca foi o judeu. O problema é o antissemita. É o ódio que se constrói contra a identidade judaica, contra sua existência histórica, sua cultura, sua fé e sua presença legítima no espaço público.

O antissemitismo não reage a atos concretos nem a comportamentos específicos. Ele se alimenta de preconceito, estigmatização e desumanização. Por isso, não depende de contexto local nem de justificativa racional. Onde ele se manifesta, qualquer judeu, qualquer símbolo e qualquer prática religiosa tornam-se potenciais alvos. A violência não busca resposta. Busca exclusão.

O terror como instrumento de intimidação religiosa

Atos terroristas de natureza antissemita não visam apenas causar mortes ou ferimentos. Eles carregam um objetivo adicional, profundamente perverso: amedrontar comunidades inteiras e constranger o exercício da fé.

Não é coincidência que inúmeros ataques contra judeus ocorram justamente em datas de celebração religiosa, em sinagogas, festividades, rituais públicos ou encontros comunitários. A mensagem é deliberada e inequívoca: tornar perigoso aquilo que deveria ser expressão legítima de identidade, memória e liberdade religiosa.

Quando uma celebração como Hanukkah é atacada, não se agride apenas um grupo específico. Ataca-se a própria ideia de que minorias possam viver sua fé com segurança, visibilidade e dignidade.

Um padrão que atravessa o tempo

Esse tipo de violência não é novo. Ao longo da história, o antissemitismo assumiu diferentes narrativas, linguagens e justificativas aparentes, mas sempre convergiu para o mesmo ponto: a tentativa de expulsar judeus do espaço público, seja pelo medo, pela violência direta ou pela normalização do ódio.

Os episódios recentes dialogam, de forma inevitável, com outros marcos traumáticos da história contemporânea, incluindo os ataques de outubro de 2023 em Israel, o dia mais letal para judeus desde o Holocausto. Em todos esses casos, o alvo não foi um exército nem uma estrutura estatal, mas civis, famílias, comunidades e símbolos religiosos.

O método muda. O ódio permanece.

Combater o antissemitismo é dever coletivo

A recorrência desses ataques exige uma reflexão que vá além da comoção momentânea. Combater o antissemitismo pressupõe reconhecer que se trata de um fenômeno específico, com raízes próprias e efeitos devastadores, e não de um desdobramento genérico ou secundário de conflitos globais.

Não há neutralidade possível diante da violência que escolhe pessoas por aquilo que elas são. Relativizar, minimizar ou tentar explicar excessivamente esse tipo de ataque não é prudência intelectual. É contribuição indireta para sua normalização.

O enfrentamento do antissemitismo começa pelo reconhecimento claro de que o ódio identitário não é opinião, nem crítica legítima. É ameaça direta à convivência plural, à liberdade religiosa e à própria ordem civilizatória.

Quando o silêncio também comunica

Preservar a capacidade de identificar, nomear e confrontar esse tipo de violência é um passo essencial. A história já demonstrou, de forma dolorosa, que o antissemitismo não se dissipa sozinho. Ele cresce quando encontra silêncio, indiferença ou desconforto em ser enfrentado.

Em um mundo cada vez mais tensionado, defender que judeus possam praticar sua fé sem medo não é uma pauta identitária nem circunstancial. É um compromisso básico com a dignidade humana e com a própria ideia de sociedade livre.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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