Um pouco de música clássica no quintal pode ajudar no crescimento das plantas? Um rock pesado pode atrapalhar a evolução delas? A ideia de que a música pode influenciar o desenvolvimento das plantas desperta curiosidade entre pesquisadores. A comunidade científica ainda diverge sobre o assunto, mas já existem estudos que apontam para uma relação.
Um estudo de 2024, realizado por pesquisadores australianos, indicou que a música pode ajudar indiretamente no crescimento das plantas. A pesquisa foi publicada na revista científica Biology Letters.
Ondas sonoras foram usadas para o desenvolvimento e a produção de esporos do fungo Trichoderma harzianum, organismo que ajuda a proteger as plantas contra patógenos, estimular sua evolução e melhorar a absorção de nutrientes.
Em comparação aos que não receberam estímulo sonoro, os fungos expostos a frequências sonoros específicas cresceram mais rapidamente. Os cientistas explicam que o fungo não ouve a música, mas as vibrações provavelmente ajudam na mudança do comportamento celular do organismo, melhorando o metabolismo e acelerando o crescimento.
No entanto, não é qualquer música que ajuda no processo. Batidas ritmadas e frequências baixas foram as “preferidas”. Sons caóticos ou muito altos não surtiram efeito e até prejudicaram os fungos em alguns casos.
O professor de biologia Flávio de Araújo conta que outros trabalhos também já investigam, de forma mais ampla, a reação específica que cada tipo de planta tem com os parâmetros e qualidades do estímulo sonoro, musical e energético.
“Ainda necessitamos de mais investigações sobre as relações das ondas mecânicas (ruídos, músicas e sons) com as plantas, pois para cada experimento que realizam, várias perguntas surgem para a compreensão dessas relações”, afirma o professor do Colégio Marista João Paulo II, em Brasília.
Experimentos e polêmicas do passado
Apesar de não terem ouvidos e nem sistema nervoso como os humanos, as plantas conseguem reagir a diferentes estímulos do ambiente, como luz, gravidade, água e vento. Assim, o meio científico sempre tentou provar que o som era mais um impulso que os vegetais percebiam.
Na década de 1970, a cantora norte-americana Dorothy Retallack conduziu experimentos colocando plantas em ambientes controlados e tocando diferentes estilos musicais. Segundo as observações, elas se inclinavam em direção a ela quando músicas clássicas e indianas eram tocadas, mas se afastavam das caixas de som quando o ambiente era tomado por rock psicodélico.
No entanto, alguns cientistas criticaram a pesquisa por falhas metodológicas e ausência de rigor estatístico.
Na década seguinte, o inventor e pesquisador norte-americano Dan Carlson criou o sistema Sonic Bloom, combinando sons de alta frequência com a aplicação de nutrientes para estimular o crescimento das plantas.
Carlson obteve resultados promissores, mas sem comprovação científica independente, a proposta foi questionada por parte do meio científico e até classificada como pseudociência.
Outras perspectivas
A partir dos anos 2000, novos estudos começaram a investigar mais a fundo a influência das vibrações acústicas nas plantas. Algumas pesquisas já indicam que certas frequências podem interferir em processos fisiológicos vegetais.
Elas poderiam aumentar a atividade de enzimas, modificar o movimento de substâncias e até alterar a quantidade de clorofila nas folhas das plantas, porém ainda não se sabe ao certo como o processo acontece.
“Se podem interferir na clorofila, podem influenciar a fotossíntese. Afinal, a fotossíntese depende da clorofila. Se afetar no movimento de substâncias, pode interferir no crescimento e na absorção que ocorre nas raízes”, defende a professora de biologia Raquel Sales, do Colégio Católica Padre de Man, em Minas Gerais.
Mesmo assim, a certeza sobre a relação entre música e plantas ainda não é consenso entre a comunidade científica. Muitos pesquisadores acham que as plantas são incapazes de serem influenciadas pelos sons. Mais estudos serão necessários para achar uma resposta definitiva para o tema.
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FonteMetrópoles