Fundos de investimento com base na Faria Lima, em São Paulo, estão sob investigação por suspeita de ocultar R$ 55 bilhões de organizações criminosas, empresários, políticos e grandes devedores. A informação é do portal Metrópoles.
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Operações policiais sugerem que esses fundos funcionam como mecanismos de blindagem patrimonial e instrumentos de lavagem de dinheiro. O levantamento identificou 177 fundos fora da Bolsa de Valores, sem auditoria ou considerados inauditáveis por falta de documentação.
Muitas dessas estruturas possuem somente um ou dois investidores, e metade tem como cotista outro fundo. O patrimônio líquido acumulado chega a R$ 55 bilhões.
Esquema de lavagem de dinheiro na Faria Lima
Essas características, consideradas suspeitas pela Polícia Federal e Receita Federal, foram detectadas em operações como Quasar e Tank. Elas investigam a utilização desses fundos no setor de combustíveis para lavagem de dinheiro.
O mesmo modelo aparece em processos judiciais que envolvem fraudes financeiras e disputas entre bancos e grandes empresas. Entre as instituições ligadas aos fundos, estão Altinvest, FIDD, Genial, Planner, Reag e Trustee, todas mencionadas em investigações policiais ou processos judiciais que cobram a identificação do beneficiário final de fundos envolvidos em dívidas elevadas.
Outro exemplo envolve um fundo da Reag associado à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele teria sido usado para ocultar a venda subfaturada de um terreno do Jockey Club de São Vicente (SP). Em pelo menos dois casos, administradoras resistiram a ordens judiciais para revelar os reais beneficiários dos fundos sob suspeita de ocultação patrimonial.
Auditoria, transparência e dificuldades de fiscalização
Foram analisados 470 demonstrativos financeiros de fundos fechados, documentos disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em 71% dos 177 fundos investigados, auditores se abstiveram de análise por ausência de documentos essenciais; nos outros 29%, não há relatório de auditoria independente.
Cem desses fundos possuem apenas um cotista, o que contrasta com o padrão do mercado. Pelo menos 20 aparecem em situações investigadas por fraudes ou crimes. A Reag, alvo de operação em agosto, mantém 72 fundos desse tipo, com R$ 45 bilhões sob gestão; 47 têm como cotistas apenas outros fundos, o que dificulta a identificação dos verdadeiros donos dos recursos.
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Segundo relatório da Polícia Federal, “a falta de transparência e conformidade é uma característica recorrente nesses esquemas, com fundos omitindo informações de seus ativos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), atrasando ou ausentando-se de pareceres de auditoria independente”.
Depois de apreender computadores e celulares em operações no dia 28 de agosto, a PF estuda ampliar as investigações para entender se o modelo de caixa-preta foi adotado por outras organizações criminosas.
Embora não sejam ilegais por definição, tais fundos facilitam o sigilo sobre os verdadeiros investidores, já que apenas as investidas são públicas, mas os nomes dos cotistas permanecem confidenciais.
Medidas de combate e respostas das instituições
Diante de suspeitas, administradoras dificultam o acesso à identidade dos beneficiários. Em ordens judiciais que exigem a abertura de informações, muitas vezes o investidor revelado é outro fundo, o que impede rastrear a origem do dinheiro em razão de ausência de limites para a cadeia de cotistas. Dos 177 fundos problemáticos, 71 têm exclusivamente outros fundos como cotistas.
Depois das operações recentes, a Receita Federal pretende exigir o CPF dos beneficiários finais, para dar maior transparência e combater crimes financeiros na região da Faria Lima.
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Em resposta à operação policial, a Reag declarou que “nunca manteve, mantém ou manterá qualquer relação com grupos criminosos, incluindo o PCC, nem com quaisquer atividades ilícitas”. A empresa reforçou atuar sempre conforme a lei. Na semana passada, o fundador, José Carlos Mansur, vendeu sua parte aos sócios depois de buscas da PF.
A Planner afirmou ao Metrópoles que todos os fundos sob sua administração “possuem demonstrações financeiras auditadas e publicadas no site da CVM”. Segundo a instituição, ela adota todas as diligências para fornecer informações ao auditor e cumpre as normas legais e regulatórias.
Sobre decisões judiciais, a Planner informou cumprir rigorosamente as obrigações fiduciárias e de sigilo estabelecidas pelo Banco Central e pela CVM, de modo a liberar a lista de cotistas apenas mediante ordem judicial ou solicitação dos reguladores.
Mais justificativas de fundos da Faria Lima
A Trustee, outra administradora investigada, comunicou ter renunciado à gestão de todos os fundos antes da Operação Carbono Oculto, por decisão de compliance diante de problemas cadastrais. Ressaltou ainda não possuir nenhum vínculo com os investigados.
O Banco Genial, por sua vez, informou que o fundo ligado ao PCC foi inicialmente estruturado por terceiros e transferido ao banco em 2024. A instituição afirma cumprir rigorosamente as normas de compliance e suspendeu seus serviços ao fundo até o fim das apurações. Altinvest e FIDD não se manifestaram sobre o caso.
Papel da CVM e penalidades para irregularidades
A Comissão de Valores Mobiliários, responsável pela regulação do setor, esclareceu que todos os fundos precisam passar por auditoria anual independente. Os únicos que não passam por essa avaliação são os recém-criados, com menos de 90 dias. Em caso de descumprimento, a CVM pode aplicar penalidades previstas na lei.
O órgão explicou ainda que a Resolução 175 exige auditoria das demonstrações contábeis dos fundos e que cabe ao administrador manter os registros completos. As punições, conforme análise dos casos, vão de advertências e multas à suspensão das atividades dos responsáveis.
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Fonte:Revista Oeste









