Bordeaux ao enaltecer certas regiões produtoras, de onde saem os mais famosos vinhos do mundo (Pomerol, Médoc, Graves, Sauternes etc), de certo modo, ‘esconde’ outras tantas regiões que merecem atenção
Bordeaux ao enaltecer certas regiões produtoras, de onde saem os mais famosos vinhos do mundo (Pomerol, Médoc, Graves, Sauternes etc), de certo modo, “esconde” outras tantas regiões que merecem atenção. É o caso de Castillon.
A denominação Castillon — Côtes de Bordeaux situa-se a leste de Bordeaux, ao longo das margens da Dordogne, com o núcleo em Castillon-la-Bataille e comunas vizinhas (Belvès-de-Castillon, Saint-Sulpice-de-Faleyrens, Puynormand, etc.). A área é conhecida historicamente pela Batalha de Castillon (1453) — que marcou o fim da presença inglesa na Aquitânia — e tem raízes medievais visíveis nas vilas e fortalezas locais.
Desde o século XX a viticultura ganhou progressivamente importância como motor económico local, e em 2008 a sub-região passou a integrar, com Blaye, Cadillac e Francs, o rótulo coletivo “Côtes de Bordeaux”, mantendo, porém, suas especificidades.
A população local mantém fortes laços com a tradição rural francesa: pequenas propriedades familiares, agricultura mista (cereais, pecuária) e — cada vez mais — viticultura e enoturismo. A viticultura transformou a economia rural, atraindo investimentos em técnicas modernas e em turismo de vinho (casas de vinho, rotas de degustação na própria Castillon-la-Bataille). A paisagem rural é pontuada por vinhas em encostas de exposição sul e por aldeias históricas que atendem tanto o agricultor tradicional quanto o visitante enoturístico.
O terroir de Castillon é variado, com três tipos predominantes: argila (clay) nas encostas baixas junto ao rio, argilo-calcário nos sopés e calcário no platô — solo semelhante ao de Saint-Émilion em alguns pontos. A exposição tende a favorecer a maturação (orientação sul) e há diferenças de altitude de cerca de 100 metros que ajudam na variedade de estilos. As castas dominantes são Merlot (preponderante), Cabernet-Franc e, em menor escala, Cabernet-Sauvignon e Malbec; outras castas bordalesas aparecem em menor proporção. Esses cortes dão vinhos tinto estruturados, frutados e capazes de envelhecer, especialmente os feitos em sítios com solo calcário.
Muitos produtores locais combinam práticas tradicionais com técnicas modernas: condução em espaldeira, manejo de copa para equilibrar produção e qualidade, colheita mecanizada ou manual conforme o porte do Château, e uso controlado de carvalho na vinificação. Há um movimento crescente para práticas de manejo mais sustentáveis em propriedades de maior prestígio. Em termos de qualidade, Castillon produz vinhos tintos de boa relação preço-qualidade, desde exemplares jovens e frutados até rótulos de média/alta gama com potencial de guarda (10+ anos em bons vinhos). A diversidade de solos permite estilos variados — de vinhos mais redondos e maduros (Merlot em solos argilosos) a vinhos mais firmes e longevos (Cabernet-Franc em solos calcários).
No geral, os Castillons entregam coloração rubi-intensa; aromas de frutas negras e vermelhas (ameixa, cassis), notas florais e toques de ervas/terra em vinhos com maior presença de Cabernet-Franc. O corpo vai de médio a encorpado, com taninos firmes mas por vezes bem integrados, acidez adequada para envelhecimento. De forma geral, são vinhos de guarda.
Castillon não pertence ao elenco dos “Grand Crus Classés” de Médoc ou do próprio Saint-Émilion, mas abriga vários châteaux de excelente reputação que vinificam com ambição (ex.: Château de Pressac — historicamente associado a boas qualidades, Château Brillette em satélites e outros produtores locais de referência). A região é muitas vezes vista como um satélite de Saint-Émilion: geograficamente próxima e com terroirs calcários semelhantes em partes, mas com preços geralmente mais acessíveis — o que a torna importante para quem busca perfil bordalês a custo menor. O papel de Castillon dentro de Bordeaux é o de fornecer vinhos tintos de caráter regional, reforçando a diversidade dos “satellites” e contribuindo para a imagem global de Bordeaux como região plural (não só Médoc/Graves/Libournais).
Por aqui encontramos vários rótulos, a exemplo: Château German, Château Brisson, Château Fongaban, Château La Brande, Château de Pitray dentre tantos outros. Finalizando, é uma sub-região com forte identidade: terroirs variados (argila, argilo-
calcário, calcário), uvas bordalesas clássicas (Merlot, Cabernet-Franc, Cabernet- Sauvignon), vinhos que vão do frutado jovem ao tinto de guarda, e um papel estratégico em Bordeaux como área de qualidade a preços mais acessíveis e com crescente reconhecimento. Para quem aprecia Bordeaux, mas busca custo-benefício e perfis tânicos/terrosos próximos a Saint-Émilion, Castillon merece atenção. Salut!
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.









