A reunião de Trump em Washington com Zelensky e os líderes europeus nesta última segunda-feira foi de impressionar. Depois da reunião no Alaska da sexta-feira passada, onde Putin foi recebido com as honrarias do tapete vermelho e nada entregou, os líderes ocidentais se mostram perplexos sem saber como resolver as questões que se apresentam a si próprios. Ao invés da tradicional reunião, onde os “Grandes” agem com pompa e determinam o destino das nações, viu-se o inteiro desentendimento entre os Europeus, e entre os Estados Unidos e os Europeus.
São três os principais motivos.
Primeiro, o PIB dos Estados Unidos e da Europa decresceram de 1960 para cá, enquanto o PIB do restante dos países aumentou. Em 1960, o PIB dos Estados Unidos representava 40% da economia mundial; e o PIB dos países que hoje constituem a União Europeia, 21%; totalizando 61% da economia total, ou cerca de 2/3 do mundo. Em 1960, o PIB da China representava 4% da economia mundial, os 5 principais países que hoje constituem o BRICS, China, Índia, Rússia, Brasil e África do Sul, cerca de 9%. Em 2024, o PIB dos Estados Unidos passa a representar 26% da economia global, a União Europeia 17%, totalizando 43% do PIB mundial. O PIB da China cresceu para 17%, os cinco principais países do BRICS para 29% do total. As projeções da Price Waterhouse indicam que a China deve passar o PIB americano até 2030, e a Índia ultrapassando o PIB americano até 2050.
Em segundo lugar, a União Europeia apresenta três problemas significativos. Primeiro, o Banco Central Europeu detém a política monetária, na emissão de Euros, sem o controle da política fiscal dos países. Isto leva a desequilíbrios e crises no sistema, como nas sucessivas crises de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. Segundo, o Parlamento Europeu não exerce poder centralizado sobre os países membros, na dificuldade, por exemplo, de ter uma política militar ou forças armadas unificadas para a estratégia e defesa do bloco. Terceiro, existem algumas dificuldades da integração étnica e cultural dos distintos povos, em oposição e separados por duas Guerras Mundiais.
Em terceiro lugar, a nível mundial, os Estados Unidos passam hoje por significativa crise de identidade política. A recente outrora democracia, baseada na liberdade de expressão que leva ao consenso político da nação para a ação, e a concorrência do mercado que leva à eficiência econômica com o desenvolvimento do país, estão sendo substituídas pela radicalização política da direita, com a supressão de direitos, e pela política econômica protecionista, que atinge os aliados com taxas.
Os Aliados não se entendem, nem dentro da Europa, nem entre a Europa e os Estados Unidos.
Assim:
1- A Guerra da Ucrânia fica sem solução.
2- China, Rússia e Índia aumentam, progressivamente, sua participação na economia e sua influência no mundo.
3- Há uma forte preocupação em relação ao Brasil por parte dos Estados Unidos e da Europa. O Brasil é o único país do ocidente a integrar, hoje, o BRICS, com a sua extensão territorial; sua agropecuária; recursos minerais significativos (com 18% das reservas mundiais de terras raras, os países do BRICS somando 72% do total dessas reservas); seus recursos hídricos; e a Amazônia. As eleições no Brasil serão críticas.
Tempestade pela frente.
Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago
FonteMetrópoles









