Mesmo cercadas de conquistas, muitas pessoas vivem com a sensação de não merecer o sucesso; entender de onde vem esse sentimento é o primeiro passo para se libertar dele
Você já se sentiu deslocado ao receber elogios ou desconfortável com o próprio sucesso? Já duvidou de si, achando que, mais cedo ou mais tarde, “vão descobrir que você não é tudo isso”? Se a resposta for sim, talvez você conheça a síndrome do impostor, um padrão psicológico comum entre pessoas competentes ou bem-sucedidas, que atribuem suas conquistas à sorte, ao acaso ou a um engano.
Em uma sociedade que exalta alta performance, resultados rápidos e validação constante, essa sensação persistente de não ser bom o suficiente, mesmo diante de conquistas expressivas, se espalha com facilidade. Essa dúvida, muitas vezes silenciosa, desgasta a autoconfiança, alimenta a autossabotagem e torna o
sucesso emocionalmente insustentável. E, quanto maior o reconhecimento, maior pode ser o medo de ser “desmascarado”, mesmo sem razão para isso.
O renomado cientista Albert Einstein certa vez disse: “A admiração exagerada que meu trabalho recebe me deixa muito desconfortável. Às vezes, tendo a pensar que sou um vigarista involuntário”.
O que está por trás da sensação de ser uma farsa
A síndrome do impostor não é uma doença, mas um conjunto de crenças autossabotadoras e padrões emocionais que distorcem a percepção do próprio valor. Suas raízes costumam estar em experiências da infância e adolescência, vividas em ambientes muito críticos, exigentes ou emocionalmente frios, marcados
por cobranças excessivas, comparações constantes ou afeto condicionado ao desempenho. Com o tempo, a pessoa aprende que “ser bom” é nunca errar, nunca relaxar, nunca falhar.
Na vida adulta, essa estrutura interna se transforma em pressão constante: não basta ter sucesso, é preciso provar continuamente que se é digno dele. Em vez de descansar na própria competência, vive-se em vigília interna, como se cada vitória fosse temporária demais para trazer tranquilidade. A mente cria um conflito
entre o que se mostra ao mundo e o que se sente por dentro. A consequência é um ciclo de ansiedade, perfeccionismo e exaustão emocional.
O papel da psicoterapia
A psicoterapia surge como um caminho para compreender a pessoa como um todo e reconstruir a relação consigo mesma, integrando mente, corpo, emoção, energia vital e história pessoal. No caso da síndrome do impostor, o acompanhamento terapêutico não se limita a mudar pensamentos, mas a resgatar o contato
com o próprio valor. Por meio de escuta profunda, técnicas de respiração e práticas de reconexão corporal, o paciente aprende a reconhecer suas conquistas sem culpa e a dissolver a rigidez interna que o aprisiona.
Não se trata de eliminar a dúvida. A vulnerabilidade saudável faz parte do amadurecimento emocional. O objetivo é transformá-la em consciência, não em paralisia. Ao acolher a vulnerabilidade, a pessoa deixa de se esconder atrás da exigência de perfeição.
Como começar a superar a autossabotagem
Algumas atitudes práticas ajudam a quebrar o ciclo da síndrome do impostor:
- Reconhecer que o perfeccionismo é medo disfarçado de competência;
- Celebrar pequenas vitórias e registrar o progresso;
- Evitar comparações, o caminho de cada pessoa tem seu próprio tempo;
- Permitir-se errar e aprender com os erros, sem se definir por eles;
- Buscar acompanhamento terapêutico para fortalecer a autoestima e o autoconhecimento.
Com o tempo, percebe-se que não é preciso provar nada para ninguém, apenas viver de forma coerente com quem se é, conquistando a liberdade não para parecer impecável, mas para permitir-se ser humano. Quando a autenticidade substitui a exigência de perfeição, a dúvida deixa de ser inimiga e passa a ser apenas um lembrete de que crescer também significa sentir, ajustar, aprender e seguir.
Em última análise, a síndrome do impostor não expõe incapacidade; ela revela uma desconexão entre o que fazemos e o que sentimos. Superá-la é um exercício de reconciliação com a própria história, um reencontro com o valor que sempre existiu, mesmo quando o mundo, ou nós mesmos, não o enxergávamos.
Dr. Diego Wildberger
Psicoterapeuta
Membro da Brazil Health
FonteJovem Pan News









