Titular da Secretaria de Segurança do Rio defende integração entre governos e foco na estrutura financeira do crime após operação no Complexo do Alemão e da Penha
O secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, Victor Santos, defendeu, em entrevista ao programa 3 em 1 da Jovem Pan, uma mudança de paradigma no enfrentamento ao crime organizado nas favelas. “A gente tem que fazer diferenciação entre ocupação e retomada. Ocupação não dá certo. Historicamente, no Rio, as ocupações se deram apenas com a Polícia Militar, e isso não funciona. A retomada é um passo maior, reconhecido inclusive pelo STF: ela exige integração entre município, estado e União”, afirmou o secretário, explicando que a entender a diferença entre ‘ocupação e retomada é central para compreender os próximos passos do governo fluminense.
A fala vem uma semana após a operação realizada nas comunidades do Complexo do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos e reacendeu o debate sobre a política de segurança pública.
Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp!
Santos destacou que 22% da população do Rio vive em favelas, número muito superior à média nacional de 8,1%, o que torna inviável uma estratégia baseada apenas em força policial. “O Estado não pode desenvolver projetos para a comunidade e levar o que acha melhor. Ele precisa ouvir quem mora lá. Cada favela tem uma necessidade específica. Estudos mostram que o maior sonho de quem vive em favela é ter habitação, e o primeiro passo da retomada deve ser a regularização fundiária, com títulos de propriedade.”
Victor Santos afirmou ainda que o Brasil precisa atualizar suas leis para acompanhar a evolução das organizações criminosas e garantir punições mais efetivas. “Não podemos dizer que algo é crime sem lei. A nossa legislação antiterrorismo, de 2016, não abrange as motivações que vemos hoje, como as milícias. No exterior, é impensável imaginar alguém armado cobrando taxa de acesso a um monumento turístico. Aqui, isso acontece em áreas dominadas pelo crime. Segurança pública é também defesa e soberania”, destacou.
Segundo ele, o Comando Vermelho já está presente em 25 estados brasileiros, perdendo apenas para o PCC em alcance. “Essa realidade precisa ser enfrentada com leis mais firmes e atualizadas”, completou, e acrescentou que a política de segurança pública do Rio mudou o foco, deixando de mirar apenas os criminosos individualmente para atacar a estrutura financeira das organizações. “Durante anos, o Rio olhou a criminalidade pelo olhar do criminoso. Hoje olhamos pelo olhar do negócio. O crime não pode ser atrativo. Se o negócio perde atratividade, os jovens deixam de enxergar isso como futuro”, explicou.
O secretário citou o exemplo do controle de serviços nas favelas, como internet, transporte e gás, como fontes de lucro para o crime organizado. “No Alemão e na Penha vivem cerca de 280 mil pessoas. Se metade delas paga R$ 100 de internet por mês, isso gera R$ 14 milhões. É muito mais lucrativo e menos arriscado do que vender drogas. Esse é o tipo de estrutura que precisamos desarticular.”
Segundo Santos, a recente operação nas duas comunidades teve como foco principal o cumprimento de mandados de busca e apreensão, com ênfase na coleta de dados digitais e financeiros. “O foco não é apenas prender lideranças. Buscamos mídias, sinais de Wi-Fi, arquivos em nuvem, informações mais valiosas do que o próprio líder. Atuamos com estratégia para reduzir o risco a moradores. Apenas quatro pessoas foram feridas, sem gravidade.”
O secretário também fez críticas à relação entre o poder público e o jogo do bicho, citando o carnaval como exemplo: “Parece que o carnaval é um momento de anistia. Você vê autoridades e bicheiros juntos, como se fosse uma festa cultural. Não podemos admitir escolas de samba homenageando criminosos. O Rio vive uma crise moral há anos”, declarou.
A entrevista completa está disponível no 3 EM UM:
FonteJovem Pan News









