Dominique Cristina Scharf, conhecida como a maior estelionatária do Brasil, deixou a penitenciária de Tremembé, em São Paulo, depois de passar mais de 30 anos presa. Aos 65 anos, ela saiu do sistema prisional, mas não por causa do limite máximo de cumprimento de pena de sua época, que era de 30 anos. O prolongamento da reclusão ocorreu, em parte, por duas fugas ao longo do período em que esteve encarcerada, segundo destacou a juíza responsável por sua execução penal.
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O pedido para extinguir a pena foi apresentado por Dominique ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de regularizar sua situação judicial. Mesmo assim, sua permanência foi estendida por conta dessas tentativas de fuga, que acarretaram punições adicionais. Ela deixou a prisão com o intuito de recomeçar a vida, planejando abrir sua própria confecção de roupas de tricô, aproveitando habilidades adquiridas durante o tempo na prisão.
Origens e início da trajetória criminosa
Nascida em 1960, em São Paulo, filha de pai norte-americano e mãe alemã, Dominique cresceu em uma família de classe alta e estudou em colégios de elite. Ainda jovem, iniciou a prática de pequenos furtos em casa e em lojas, intensificando as ações depois da morte do pai e do afastamento da mãe. Aos 21 anos, foi presa pela primeira vez, dando início a um ciclo de prisões e crimes cada vez mais complexos.

Durante as décadas de 1980 e 1990, Dominique acumulou dezenas de inquéritos por crimes, como estelionato, falsificação, uso de documentos falsos, furtos e assaltos armados. Tornou-se especialista em fraudes financeiras, utilizando identidades falsas, forjando documentos e enganando empresários e instituições financeiras. Entre os métodos estavam a falsificação de cheques, venda de joias falsas e golpes sentimentais, em que chantageava homens casados com fotos comprometedoras.
Além desses esquemas, ela era conhecida por se hospedar em hotéis de luxo e frequentar restaurantes caros, sempre elaborando formas de evitar pagamentos. Chegou a inserir insetos propositalmente nos pratos para justificar a recusa em pagar a conta. Dominique também se envolveu em tráfico de armas, clonagem de veículos e participou de uma quadrilha que roubava carros em São Paulo, enviava-os ao Paraguai para adulteração e os trazia de volta ao Brasil.
Escalada penal e episódios marcantes
Um episódio em 2003 agravou sua situação penal. Durante um assalto a um vendedor de joias, Dominique foi acusada de tentativa de homicídio e recebeu mais 12 anos de prisão.


A quantidade de processos penais contra Dominique chegou a 20 simultaneamente. Em 2016, o Departamento de Execuções Criminais unificou as condenações, fixando a pena total em 57 anos, 11 meses e dez dias. Em 2006, um erro judicial permitiu sua transferência para o regime semiaberto, mas a falha foi corrigida dez anos depois, quando retornou ao regime fechado.
Fugas e desafios judiciais
Fugas também marcaram sua trajetória. Em uma delas, Dominique e outra detenta escaparam do Carandiru com uso de um alicate para cortar o alambrado, mas foram recapturadas ao tentar atravessar um córrego. Depois, em Ribeirão Preto, ela conseguiu pular uma muralha de 6 metros com uma estrutura de madeira destinada a uma plantação de maracujá.
O acúmulo de condenações gerou confusão até para a própria Dominique, que em 2023 enviou uma carta à Justiça em que pedia esclarecimentos sobre o tempo restante da pena. “Não é justo que nem a juíza saiba quanto tempo eu tenho para ficar presa”, disse.
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Fonte:Revista Oeste









